Regresso ao défice? Marcelo vê margem, Montenegro atira a 2025 e Pedro Nuno crê em Centeno
Depois de o Banco de Portugal ter inscrito, no mais recente Boletim Económico, o cenário de regresso à derrapagem orçamental em 2025, o primeiro-ministro remeteu o “tira-teimas” da execução para o final do próximo ano. Este sábado, questionado sobre as previsões da instituição liderada por Mário Centeno, o presidente da República falou de um “aviso político”, mas ressalvou que o Governo dispõe de “margem de manobra”. Já o secretário-geral do PS quis ser taxativo: “Devemos levar muito a sério o que diz o governador”.
Já o crescimento da economia deverá situar-se, de acordo com o banco central, em 1,7 por cento em 2024 e 2,2 em 2025, em resultado da melhoria das condições financeiras, da aceleração da procura externa e do encaixe de verbas europeias.
A reação de Luís Montenegro aos números do boletim foi conhecida ao final da tarde de sexta-feira.
“Eu acho que o tira-teimas será no dia 31 de dezembro de 2025. Nós já só vamos conseguir definir esta diferença de opinião durante o ano de 2025 e, em concreto, no final do ano, quando o exercício orçamental acabar, e creio que, no essencial as perspetivas do Banco de Portugal não são diferentes”, redarguiu o primeiro-ministro à chegada a Serralves, no Porto, para a reunião do Conselho de Fundadores da instituição. “São previsões. Em qualquer caso, elas aparecem um bocadinho em contramão, visto que não há mais nenhuma entidade que acompanhe o pessimismo que o senhor governador do Banco de Portugal, expressou do ponto de vista do da performance orçamental para o próximo ano”, acentuaria o governante, para insistir na postura de “firmeza e confiança no cumprimento do objetivo de ter um superavit no próximo ano”.A “situação”, garantiu Luís Montenegro, “está absolutamente controlada”.
Já este sábado - à margem de um almoço de Natal promovido pelo Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, com o apoio do Metro de Lisboa -, o presidente da República foi questionado sobre estas estimativas do Banco de Portugal. “Boas e menos boas notícias”, sintetizou Marcelo Rebelo de Sousa.
"As boas notícias para este ano: ele elevou a taxa de crescimento, vamos crescer um bocadinho mais do que se pensava, coloca em 1,7, o que em termos europeus é bom; não subimos o desemprego; aguentamos o Orçamento, com um superavit; temos o turismo a aguentar muito bem, o investimento externo razoável e o consumo interno a aguentar", enumerou o chefe de Estado.
“As menos boas notícias foram para o ano que vem. Porquê? Porque o Banco de Portugal está muito pessimista sobre a evolução no mundo e na Europa e acha que pode acontecer, na Europa, que a Alemanha não arranque, que a França tenha maus resultados, são países para onde exportamos muito, que outros países também não tenham bons resultados, e aquilo que nós exportamos para países não europeus pode não compensar”, continuou. ”Há ali uma preocupação de que as despesas subam tanto que acabem por dar um mínimo défice, daqueles que tanto podem ser défice como não ser, que é -0,1. No final do ano, pode ser mais ou menos”.
“O que o governador quis dizer ao Governo é que não estiquem muito as despesas, porque havia folga e ainda há, mas a folga tem limites, com aumentos vários em vários sectores da Administração Pública, de prestações que estavam devidas e prometidas há muito tempo, calhou tudo num período concentrado de tempo”, interpretou o presidente.
Marcelo clama que, por ora, não está preocupado com o quadro interno: “Ainda não começou o ano. Estou preocupado com a situação internacional, mas tenho a noção de que um governo minimamente atento percebe que, se estiver a correr lá fora mal, não tem tanto dinheiro para gastar”.“O Governo naturalmente tem espaço de manobra, tem 12 meses, para ver o que se passa e para não gastar aquilo que possa dar um défice”, quis fazer notar o presidente da República.
“É verdade que o primeiro-ministro diz que o governador vai em contramão, que as previsões vão todas no sentido oposto, mas isso sempre foi assim. Quando era ministro, o atual governador Mário Centeno foi sempre, em matéria de finanças, muito exigente e muito ortodoxo e portanto não muda, naquela idade já não muda", observou Marcelo Rebelo de Sousa.
Menos inclinado a desvalorizar as previsões, o secretário-geral do PS viria enfatizar, mais tarde, que o aviso do Banco de Portugal é para “levar muito a sério”.
“Acho que devemos levar muito a sério aquilo que diz o governador do Banco de Portugal", retorquiu Pedro Nuno Santos em declarações aos jornalistas, a partir de Évora, à margem da apresentação de candidatos do partido, neste distrito, às eleições autárquicas do próximo ano. Mário Centeno, continuou Pedro Nuno, “é alguém com uma grande respeitabilidade, tem um histórico muito positivo, tem resultados, são reconhecidos em toda a Europa e em Portugal”.
“Portanto, devemos dar muita atenção àquilo que diz. Quando ele fala, sabe do que fala”, reforçou.
Quanto à forma como encara as previsões do banco central - com otimismo ou pessimismo -, Pedro Nuno Santos colocou a tónica no “realismo”, para reafirmar: “Temos que ouvir todas as pessoas e instituições e o Banco de Portugal é uma instituição muito importante e, portanto, temos que levar mesmo a sério aquilo que diz um governador do Banco de Portugal”.